Chorão



O Salgueiro-chorão alegrava a minha alma. Vivíamos juntos às árvores – as frutíferas principalmente. Nas ruas do subúrbio do Rio, descansávamos embaixo de amendoeiras; que de quando em vez cismavam em coroar as nossas cabeças com seus frutos.

Alguém sempre dizia:

- Melhor uma amêndoa que uma jaca.

E a garotada ria sem parar. Mas riamos de tudo. Até daquilo que não tinha graça.

Adorávamos escalar em dias quentes as enormes flamboyants que sombreavam as nossas ruas. Mas foi num dia ameno de primavera, aos doze anos de idade, que vi pela primeira vez, um enorme Salgueiro-chorão. E para completar aquela paisagem, ele se debruçava num laguinho artificial repleto de carpas. Meus olhos encheram-se de alegria e de esperança. Foi paixão a primeira vista.  A partir desse dia, sempre que tenho que desenhar uma árvore, é ele que desenho – guardado inteiro em minha cabeça. Lembro-me desse primeiro momento com todas as cores suaves de uma manhã de primavera.

Têm coisas que marcam a nossa vida pra sempre. O chorão foi uma dessas coisas. Foi olhando pra enorme árvore que me veio à sensação de mudança na minha vida. E como mudou.

Mesmo sabendo que não a encontraria mais naquele lugar, pois o seu tempo de vida não ultrapassa trinta anos, não resisti e fui até o local onde a vi pela primeira vez. Ela não mais existia certamente, mas o meu pensamento voltara a encontrá-la numa lembrança que encheu o meu peito de alegria.

Como eu queria que as minhas lembranças fossem somente de coisas alegres. Que as tristes fossem apagadas ou, pelo menos, guardadas numa caixa com um segredo difícil de memorizar.

Eu não sabia que ao encontrá-la a minha vida mudaria. E como mudou. Mas o que seria da vida se tudo fosse virtude? Contrario ao Chorão, tem gente que entristece a alma. Principalmente a minha.

Paulo Francisco


Segunda-Feira

Era certo. Quando aparecia no trabalho na terça-feira, todos sabiam que a segunda não foi de brincadeira. O homem sempre chegava de mansinho, passos curtos, a cabeça pouco mexia tamanho o seu peso, era sempre assim, as dores no corpo sinalizavam, que a segunda fora perfeita.
Raro uma terça-boa, quando isso acontecia era, sem duvida nenhuma, reflexo da inexistência da segunda.
Copos e mais copos de água deixavam-no reabilitado logo, assim, a terça não era improdutiva, cumpria com suas obrigações.
O que ninguém entendia era que a mazela de terça-feira era importantíssima para sua vida. Quando a terça passava como um dia qualquer, podia-se apostar que algo de errado estava acontecendo com ele. Um amigo, sabendo de sua rotina, ao vê-lo passar se arrastando em passos curtos e corpo duro, pergunta:
- E aí? Como foi sua segunda-sem-lei? Ele responde, sem mexer muito o corpo em frangalhos:
- Perfeita!
O camarada não bebia no final de semana, odiava compromissos de sábado e domingo e por isso, adotou a segunda–feira para se divertir, jogar conversa fora com alguns amigos, ou não. Saía do trabalho como se fosse para uma festa. Ao contrário dos outros dias, na segunda, ele estava com sua melhor roupa e mais perfumado. Na segunda, ele sabia que só encontraria profissionais da noite, pessoas que sabiam o que estavam fazendo. Não esbarrava com alcoólicos amadores de finais de semana; não encontraria casas cheias e barulhentas. Odiava mesas repletas de pessoas comemorando o aniversário de alguém. Exclamava sempre:
- Vão comemorar em casa, porra!
Se estivesse num local e ouvisse aquele coro de parabéns pra você... saía imediatamente.
Então enchia a cara no dia em que todos estavam de ressaca.
Vai entender!
Ah! Pior que ele não era o único.



(Encontrei esse texto num outro blog. Mas o lugar dele é aqui rs)