Sentido III (Sabores)




Como seria chato se não tivéssemos esse sentido ou simplesmente se não fosse tão apurado. Sentir o gosto das coisas é no mínimo fantástico. É através dele que podemos distinguir o doce do salgado, o amargo do azedo. Não vou aqui enumerar os vários exemplos da vida animal em que esse sentido é de extrema importância. O sabor agradável de alguma coisa jamais é esquecido. Os desagradáveis também. Quantas vezes pegamos uma criança com algo estranho na boca? Talvez, a gustação, seja o primeiro sentido, de verdade, que uma criança tenta explorar. “Tira isso da boca menino!” A mãe grita. “Se falar nome feio de novo, coloco pimenta em sua boca, viu!” A criança nem precisa saber qual o gosto da pimenta, mas sabe, se sua mãe aterroriza com aquele fruto, certamente, deve ter um gosto terrível.

Eu só o comi uma única vez, num único dia, e nunca mais esqueci aquele sabor na minha vida: o sabor do sanduíche feito pela minha mãe, num dia todo especial – o dia em que fui para o zoológico, na Quinta da Boa Vista em São Cristóvão, numa excursão da escola, com o dinheiro do refrigerante no bolso da bermuda e dois sanduíches de linguiça de porco enrolados num guardanapo de pano. Agradeço a Deus por não existir, naquela época sanduíches de carne prensada ou qualquer coisa parecida. Aquele sanduíche, não ficou guardado somente em minha mente, ele ficou guardado em meu coração. Acredito que tal sabor ficou tão marcado em minhas lembranças, por um único motivo: ele foi feito por mãos mágicas, num dia especial. 

Era a primeira vez que saía sem a companhia de um dos meus pais ou de algum adulto conhecido. Jamais esqueci o gosto daquele pão desmanchando em minha boca misturado a uma linguiça tenra e saborosa. Até hoje ao comer um pão com linguiça, procuro o tal sabor em vão.

Às vezes, fico a buscar sabores infantis e confesso, que alguns me são estranhos. Não achei ruim quando mastiguei, fazendo o mesmo ritual infantil, trevos encontrados em meu bairro, por outro lado, não tive coragem de mastigar umas formiguinhas que na época de infância tinha um gosto ácido. Achei terrivelmente repugnante. Alguns sabores se tornam diferentes com o decorrer do tempo e o melhor que temos que fazer é deixá-los somente em nossas lembranças.


Paulo Francisco

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