O negócio é o seguinte: Estou aqui curtindo a lua, contando
estrelas, sorrindo com a brisa gelada batendo na minha cara, balançando na
minha rede, ouvindo músicas antigas – as preferidas- e degustando um vinho
tinto que guardei por tanto tempo. E antes que você venha com aquele papo que a
minha solidão é coisa de gente doida, digo que ficar aqui jogado, mandando sem
medo o mundo pastar é muito bom. Ah! Quem me dera pudesse não mais procurar
pelas horas, esquecer os compromissos, acordar a qualquer tempo e continuar nu
debaixo do lençol, lendo os meus autores preferidos sem a preocupação se o dia
vai ser ensolarado ou chuvoso.
O papo é reto: Não significa que não seria bom você estar
aqui. Seria sim. As nossas conversas sempre foram leves e divertidas, sem cobranças,
sem problematização. As complicações sempre ficaram lá fora. Nós dois sempre
nos bastávamos. Mas no momento quero ficar aqui, egoisticamente, sem fazer
porra nenhuma. Eu seria uma péssima companhia agora. Quem sabe depois?
Lembra quando fui ao seu encontro? Foi bom, diferente,
estávamos à procura de algo que não estava em nós. Até voltei pra ter certeza
que não estávamos enganados. Pena! O sonho durou pouco. Mas foi bom. Sem
arrependimento, né?
Lembra quando a nossa viagem foi cancelada por você um dia
antes de viajarmos em pleno carnaval?
Mochila pronta jogada por semanas no canto do quarto. Cê sabe que não
aconteceria nada, que ele não iria ao seu encontro. Mas o medo foi maior que a
aventura. Sempre que me lembro desse episódio dano a rir.
Lembra quando nos reencontramos depois de um tempo
separados. Sabíamos que não iria além do tesão do momento. E por isso, a
despedida foi suave, doce como uma canção.
Para concluir: Calma!
Concluir o texto. Você sabe que de um jeito ou de outro seremos eternos. Fazer
o quê?! Somos assim, despudorados e felizes. Dane-se os que acham que somos sem
vergonhas. Até porque somos mesmo. Por isso o vento não desgastará, o sol não
craqueará, a chuva não apagará o que temos e o que somos.
Vou pra dentro. A lua foi para trás da montanha, o vinho
está acabando, a música parou e o sono está chegando.
Ah! Já ia me esquecendo de dizer: Caraca! vê se para de
aparecer nos meus sonhos todos as noites. Já disse. Quero ficar aqui na minha
solidão provocada.
Rindo.